A Polícia Federal descobriu e-mails contendo um roteiro de orientações para o ex-presidente Jair Bolsonaro sobre ataques às urnas eletrônicas durante a posse do ex-chefe da Agência de Inteligência Brasileira (Abin), Alexandre Ramagem. Além disso, foram encontrados documentos com “informações difamatórias” sobre o ministro Alexandre de Moraes, relator de investigações sensíveis ao ex-presidente e seus aliados no STF. Essas informações foram divulgadas pelo jornal O Globo e confirmadas por fontes na Polícia Federal.
Essas descobertas foram utilizadas durante o depoimento de Ramagem na quarta fase da Operação Última Milha, que investiga a ‘Abin paralela’, um esquema de bisbilhotagem e monitoramento de políticos, ministros do Supremo e jornalistas no governo Bolsonaro. Ramagem tentou atribuir a responsabilidade da suposta arapongagem a dois ex-integrantes da ‘Abin paralela’, um policial federal e um sargento do Exército.
Os documentos encontrados com Ramagem, intitulados ‘presidente’, continham orientações sobre o caso Fabrício Queiroz e mencionavam a “família Bolsonaro”. A Polícia Federal afirma que esses documentos corroboram a investigação de que as informações da ‘Abin paralela’ alimentavam o “núcleo-político” da organização criminosa sob suspeita. Os investigadores também estão utilizando esses arquivos para atribuir a Ramagem o ‘domínio do fato’, ou seja, o conhecimento da arapongagem.
A teoria do ‘domínio do fato’, que foi utilizada durante o julgamento do Mensalão e na Operação Lava Jato, está sendo aplicada a Ramagem. Essa teoria, importada da Alemanha e aprofundada pelo jurista Claus Roxin, defende que ocupantes de um ‘aparato organizado de poder’ que ordenem a execução de crimes devem responder como ‘autores’ dos delitos. Agora, essa teoria está sendo aplicada a Ramagem e suas conexões com os crimes supostamente praticados pela ‘Abin paralela’.