Uma suntuosa mansão na Síria, associada a Maher al-Assad, irmão do ex-presidente Bashar al-Assad, foi descoberta como local de uma fábrica de captagon, uma droga altamente viciante conhecida como a “cocaína dos pobres”. A propriedade, situada em al-Dimas, próxima à fronteira com o Líbano, foi saqueada pela população após a queda do regime, porém os equipamentos e substâncias químicas utilizadas na produção da droga estavam intactos quando os rebeldes invadiram o local.
A fabricação do captagon era realizada em larga escala, com uso de maquinários industriais, ingredientes químicos importados e métodos sofisticados. A droga era empacotada em esferas de naftalina e distribuída por preços acessíveis. Inicialmente desenvolvido na Alemanha como medicamento, o captagon foi proibido devido aos seus efeitos colaterais e ao seu potencial viciante, porém tornou-se popular no Oriente Médio, especialmente entre elites e combatentes, por aumentar a concentração e reduzir a fadiga.
Desde a queda de Assad, diversas instalações de produção de captagon foram descobertas na Síria, incluindo bases militares, fábricas abandonadas e até mesmo uma antiga fábrica de batatas fritas. Estima-se que o comércio global de captagon movimente US$ 10 bilhões anualmente, com o regime de Assad lucrando cerca de US$ 2,4 bilhões.
As principais rotas de tráfico passavam por fronteiras porosas com o Líbano, Jordânia e Iraque, e a droga era frequentemente camuflada em cargas de pneus, frutas de plástico e outros itens para burlar a fiscalização. A produção também foi associada ao grupo xiita Hezbollah, aliado de Assad. Países como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos impuseram sanções rigorosas e intensificaram a vigilância para combater o tráfico.
Após a readmissão na Liga Árabe em 2023, a Síria comprometeu-se a combater o contrabando de captagon, porém a queda do regime traz incertezas sobre o futuro desse comércio ilícito. Enquanto isso, as novas autoridades buscam estabilizar o país, reconstruir a economia e fortalecer a segurança. Combatentes como Abu Hanifa Tajiki, que lutaram pela queda do regime, defendem a implementação da lei islâmica no país, mas afirmam estar dispostos a conviver pacificamente com outras religiões, desde que haja respeito mútuo.
O captagon, símbolo do desmoronamento do regime sírio, permanece como um desafio para a região, enquanto a Síria procura reerguer sua reputação e superar as cicatrizes de décadas de opressão e guerra civil.